quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Em 2012, privilegie a estratégia "de baixo para cima"

A divulgação dos números do desempenho da economia brasileira no terceiro trimestre de 2011 reforça a tese de que, para 2012, a melhor alternativa para montar uma carteira de aplicações financeiras é adotar o processo de investimento conhecido como "de baixo para cima" ("botton-up"). Trata-se de identificar quais ativos possuem o maior potencial de valorização, a despeito de considerações sobre o cenário macroeconômico.
O resultado mais recente do PIB mostra que a combinação de inflação elevada com juros altos nos empréstimos pessoais reduziu o poder de compra dos brasileiros e derrubou o consumo das famílias.
Desde 2005, o consumo das famílias crescia ao redor de 5% ao ano, impulsionado pelo aumento da massa salarial e pela maior disponibilidade do crédito pessoal. Isso porque mais pessoas empregadas recebendo salários médios cada vez maiores podem consumir mais e tomar mais empréstimos nos bancos, o que estimula as vendas, a produção e os novos investimentos.
Mas, desde o quarto trimestre de 2010, a taxa de crescimento do consumo das famílias só diminuiu, passando de 7,3% na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior para 2,8% no terceiro trimestre de 2011, o que contribuiu significativamente para a desaceleração do PIB.
O consumo das famílias representa, aproximadamente, 60% do total movimentado pela economia brasileira. O consumo do governo e a formação bruta de capital fixo, que é equivalente à taxa de investimento, representam 20% do PIB cada.
Para reverter os atuais números ruins da economia brasileira, tudo indica que o governo deve agir - especialmente porque 2012 é ano eleitoral. Portanto, a probabilidade de se adotar novas medidas pontuais, de desoneração de impostos ou de incentivos específicos para alguns setores, é alta.
O processo de investimento que parte da definição do cenário macroeconômico para escolher os ativos da carteira é conhecido como "de cima para baixo" ("top-down"). Em 2012, tudo conspira contra essa estratégia, porque a velocidade das mudanças dos cenários econômicos deverá ser alta e, portanto, a atuação do governo tende a ser imprevisível.
No ano que vem, o desafio para os investidores que usam a abordagem "de cima para baixo" será o de antecipar quais setores serão mais estimulados pelo governo e, a partir daí, estabelecer as melhores formas de posicionar suas aplicações. A estratégia tem como objetivo tirar proveito do aumento da lucratividade momentânea das empresas beneficiadas pelas medidas, comprando ações ou debêntures, por exemplo.
Nesse clima de incertezas, o mais seguro é fazer a abordagem oposta, conhecida como "de baixo para cima", e definir bons investimentos que podem produzir boa rentabilidade, não importando o cenário macroeconômico.
Para os seus investimentos em ações, por exemplo, concentre-se em entender a estratégia de negócios da companhia, as razões que levam você a acreditar que os produtos da empresa são superiores aos da concorrência, como são as barreiras para entrada de competidores e o desempenho histórico da empresa.
Apesar de complexo e de demandar tempo, esse processo de escolha dos investimentos reduz os riscos de decisões equivocadas, como, por exemplo, comprar ações de empresas ruins e que foram apenas momentaneamente beneficiadas por políticas governamentais transitórias. De uma forma geral, depois que os incentivos terminam, essas companhias revelam não ter capacidade para enfrentar a concorrência e acabam em sérias dificuldades financeiras.
Como alternativa, você pode pesquisar no universo de gestores de recursos os fundos de investimento que seguem a estratégia "de baixo para cima". Apesar de ultimamente haver certa preferência pelos fundos passivos, que simplesmente seguem um índice e possuem baixo custo administrativo, no atual ambiente econômico pode ser interessante apostar em bons gestores que se especializaram em acompanhar boas empresas.
Mas tome cuidado e investigue se a estrutura desses gestores é compatível com o que eles se propõem a oferecer.
Marcelo d"Agosto é economista especializado em administração de investimentos com mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro
As opiniões contidas neste espaço refletem a visão do analista sobre as companhias, e não a do Valor Econômico. O Valor e o autor não se responsabilizam por prejuízos decorrentes do uso dessas informações
 
Fonte: Valor Economico

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