Como gerir o patrimônio familiar? Quais os hábitos que levam esse tipo de empresa ao sucesso? A maneira como uma família aumenta o seu patrimônio empresarial e como lida com a riqueza acumulada ao longo das gerações foram algumas das questões analisadas pelo professor John Davis, durante a 8ª edição do Fórum HSM Family Business, realizada nesta semana na Capital paulista.
Davis, que lidera o programa de educação executiva Families in Business, da Universidade de Harvard, citou, como exemplo, a família Ford para demonstrar como o patrimônio, que cresce na primeira geração, pode cair "precipício abaixo" duas ou três gerações à frente. "Não perceber e não se adaptar às mudanças é uma das causas dessa grande dissipação", disse.
O especialista também citou, com base em dados da revista Forbes que, das 320 famílias mais ricas à frente de companhias nos EUA, integrantes do ranking entre 1982 e 1989 somente 103, ou um terço, permanecem até hoje. "São empresas que, descontada a inflação, conseguiram manter o crescimento de seus ativos em aproximadamente 6% ao ano, taxa que se elevou acima da média das demais e se mostrou substancial no longo prazo. A pergunta é: o que há de diferente nas que permaneceram?", questionou Davis.
Em geral, os negócios em família podem seguir por três vias diferentes, de acordo com o professor. A primeira é aquela em que o índice de crescimento dos ativos costuma ser menor que o índice de consumo tanto pelo empreendimento como pela família. Já a segunda baseia-se em perdas grandes, motivadas por investimentos ruins. E a terceira, a ideal, mescla continuidade de crescimento da família e de ativos. "O aumento desses ativos excede outros fatores (consumistas), e a família aprende a viver bem com isso."
Qual seria, então, o papel do grupo familiar para impulsionar o negócio? Conforme declarou John Davis, a ideia é focar no empreendedorismo inteligente, baseado em forte liderança e governança do clã. "E manter pelo menos um membro gerador de riquezas – ou seja, que tem a capacidade de assumir riscos e confiança da família para isso, já que o apetite cai ao longo das gerações", explicou o professor de Harvard. Ele aconselhou os empresários a investir e diversificar nos ativos certos, reinvestir nas próprias empresas, ser leal ao que o pai ou o avô idealizaram também fazem diferença para os negócios.
Entre as atitudes/filosofias individuais em relação ao dinheiro, Davis alertou que a riqueza deveria manter a união familiar, não dividir. Por isso é importante fazer o patrimônio trabalhar a seu favor, ser disposto a apostar em riscos prudentes, ter respeito e responsabilidade pelo seu dinheiro e dos outros, além de se sentir engajado ao manter o negócio. "É comprovado que níveis mais elevados de patrimônio não são encorajadores. Cada um desses aspectos é influenciado de forma negativa pela presença da riqueza", alertou.
Da abertura ao crescimento, maturidade e declínio de uma empresa, Davis explicou que, além de manter uma liquidez que não depende só de sua carteira, é preciso ser consciente do que acontece em seu setor e entender que o negócio de hoje não deve ser o do futuro. "Mas a grande maioria tem que trabalhar: não dá para esperar que a próxima geração cresça para que a riqueza cresça", ressaltou.
Trabalhar no vizinho para aprender
Como empreender sendo herdeira, e como saber abrir mão no momento certo sem se desligar totalmente do negócio familiar foi o tema da palestra de Ana Maria Diniz, filha do empresário Abilio Diniz, do Grupo Pão de Açúcar, no fórum HSM Family Business.
Ana, que trabalhou por 17 anos no grupo, como vice-presidente de Operações, passou pelas áreas de RH, Marketing e Serviço de Atendimento ao Consumidor, hoje é sócia-fundadora da Sykué Bionergia e da Axialent do Brasil, além de membro do conselho do Pão de Açúcar.
Em 1980, ao iniciar sua carreira como assistente de compras da empresa, entendeu a importância de "começar de baixo" e passar por todas as áreas da corporação. Trabalhar na Editora Abril, subordinada às regras de uma empresa que não era "a da família", foi determinante para definir sua trajetória, disse ela.
A empresária, que ao lado do pai participou ativamente de toda a reestruturação financeira da companhia nos anos 1990, explicou como o processo de mudança – de vida de executiva em família para ser empreendedora – costuma ser difícil. "Estava 'viciada' no negócio familiar, tamanho o poder que isso gerava. Só teria graça novamente se pudesse criar algo novo."
O antídoto para não sofrer tanto com a passagem foi colocar um objetivo no negócio, escolher um bom time e saber administrar um orçamento mais enxuto, disse. "Mas, como continuo acionista (do Grupo Pão de Açúcar), não posso esquecer de cuidar do patrimônio, ter interesse genuíno no negócio. Mesmo seguindo caminho solo, é preciso cuidar bem do seu pedaço", finalizou.
Fonte: Diário do Comércio
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