Preocupada com possíveis respingos da crise econômica na Europa, a
presidenta Dilma Rousseff convocou duas reuniões ministeriais no Palácio
do Planalto, na segunda-feira 4, e pediu providências imediatas para
manter o Brasil longe do contágio. Ela mesma deu o diagnóstico da
situação interna aos assessores e concluiu que o governo deve reforçar
os mecanismos de investimento para acelerar o ritmo da economia. Dilma
pediu ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, que providencie novas
medidas para elevar os investimentos produtivos e evitar um resultado
baixo do PIB, que deve ficar em torno de 3% neste ano. A conjuntura
externa tem se deteriorado a olhos vistos, com o agravamento da situação
na Grécia e na Espanha e a desaceleração na China e na Índia, e sempre
há o risco de impacto no Brasil. Mas, embora esteja preparando medidas
de incentivo ao crescimento, a Fazenda conta com a força do mercado
interno. Com toda a razão. A renda dos brasileiros subiu 4,2% este ano, a
massa salarial aumentou, o desemprego é o menor da década, o consumo
está aquecido e a indústria voltou a crescer. Esse cenário criou
condições para a presidenta Dilma lançar um desafio: “Quem aposta na
crise, como alguns apostaram quatro anos atrás, vai perder de novo.”
Apesar de o PIB ter crescido apenas 0,2% no primeiro trimestre, o Brasil
está longe da recessão que acometeu a Europa e, a cada semana, novos
arsenais, como costuma dizer a presidenta, são acionados. Depois da
conversa com Dilma Rousseff, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho,
anunciou corte de juros e ampliação do programa Progeren, voltado para a
indústria de transformação. Na terça-feira 5, a Caixa Econômica ampliou
de 30 para 35 anos os financiamentos habitacionais nos imóveis até R$
500 mil, para manter a construção civil aquecida. E o discreto
presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, garantiu que a atividade
desde o mês de abril já está num ritmo maior do que exibiu entre
janeiro e março deste ano. “A economia se expandiu a um ritmo mais
lento, mas vai acelerar ao longo do ano”, afirmou Tombini.
A nova estratégia de crescimento se baseia não só na redução de juros,
mas também no câmbio mais desvalorizado, na redução do custo da energia
elétrica e mais investimentos públicos em infraestrutura para atrair o
setor privado. “O investimento do governo está cerca de 30% maior do que
no ano passado”, diz Mantega. “As estatais passaram a investir mais e a
Petrobras vai anunciar seu plano de investimento. Os empresários se
assustaram com a questão internacional, mas vamos mostrar que a economia
brasileira pode crescer mesmo com uma crise.” Apesar do forte
desembolso público, o governo não pretende abrir mão da meta de
superávit primário de 3,1% do PIB. O secretário do Tesouro Nacional,
Arno Augustin, diz que, nos quatro primeiros meses de 2012, o governo
alcançou praticamente a metade da meta de superávit. Augustin avalia,
portanto, que há espaço para acelerar as obras do PAC sem comprometer as
contas públicas. E é justamente isso que os ministérios dos Transportes
e das Cidades vão ter que se esforçar para fazer. Até o momento, não
conseguiram executar nem 15% dos investimentos previstos para este ano.
A presidenta Dilma quer que a economia brasileira comece 2013 num ritmo
bastante acelerado e já está acionando o arsenal ao seu dispor. Para o
cidadão comum, o governo se dedicará a reduzir os índices de
inadimplência, facilitando a renegociação das dívidas com os bancos.
Para os estados, nos próximos dias será encaminhado à Câmara um projeto
de lei que altera a Lei de Responsabilidade Fiscal e permite aos
governos aumentar suas dívidas e abrir mão de impostos para incentivar o
setor privado. Em outra frente, os ministérios da Defesa, Educação e
Saúde terão que ampliar os programas que envolvam a compra de
equipamentos e bens de capital. Além disso, o Palácio do Planalto editou
a medida provisória 556 para incluir as obras do PAC e da Educação no
Regime Diferenciado de Contratações, criado para acelerar as licitações e
flexibilizar as obras da Copa. Se todas as ações surtirem o efeito
esperado, o brasileiro, no fim do ano, poderá comemorar não só o
crescimento de sua renda, mas de todo o País.
Fonte: Revista IstoÉ
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