Mesmo com muitos anos de carreira, Chico Buarque e Maria Bethânia ainda
estão no time dos que sentem um friozinho na barriga minutos antes de
entrar no palco. É que ao mesmo tempo em que o público exerce um enorme
fascínio também provoca medo. O problema é que o tremor nas mãos e a voz
vacilante não são reações exclusivas dos artistas. Não é raro encontrar
executivos que dão palestras ou que chefiam reuniões e que, mesmo
assim, morrem de medo de falar em público. Muitas vezes, eles preferem
fugir dessas situações do que enfrentá-las e, assim, acabam perdendo
oportunidades na carreira. “A impressão que a pessoa tem é que, quando
se tornar diretor ou presidente, o medo vai desaparecer. Mas, na
verdade, o medo só aumenta. Ela começa a pensar que tem muito mais a
perder e, ao mesmo tempo, não se conforma com nervosismo”, diz Reinaldo
Polito, fundador do curso de expressão verbal que leva o seu sobrenome.
Segundo o especialista, o medo surge por quatro motivos. O primeiro é a
falta de conhecimento sobre o assunto que será abordado. “Neste caso, o
executivo tem receio de esquecer um dado ou encontrar alguém na plateia
que saiba mais do que ele.” Outro motivo é falta de coordenação da fala
que acontece quando o executivo tem dificuldade de desenvolver uma linha
de raciocínio. Há ainda a questão da falta de experiência de falar em
público e, principalmente, a falta do autoconhecimento. “Todo mundo tem
dois oradores: um real e um que é fruto da imaginação, das mágoas e das
críticas que foram feitas ao longo da vida. É esse orador que faz com
que a pessoa tenha medo da censura”, acrescenta. Independentemente de
qual seja o motivo que leva ao medo, é possível desenvolver a habilidade
de falar em público. “É possível transformar a angústia em prazer,
porque o inimigo é a própria pessoa”, afirma Reinaldo Passadori,
fundador do Instituto Passadori. Isso pode ser obtido com técnicas para
organizar as ideias, ampliar o vocabulário, além de exercícios para a
voz — tanto de tom quanto para regular a velocidade da fala. “Também é
importante reforçar a autoestima e aprender a lidar com vários tipos de
pessoas. Tudo isso é um aprimoramento contínuo”, acrescenta.
Curso de comunicação
Patrícia Mangini, coordenadora de projetos de uma grande empresa de
engenharia, conta que já teve o famoso “branco” durante uma
apresentação. “Quando esqueci o que ia dizer, tive que disfarçar e mudar
de assunto”, afirma. “Sentia que não estava plenamente preparada para
fazer a apresentação, pois geralmente a estruturação era feita com pouca
antecedência, sem tempo para ensaiar.” A fim de mudar isso, Patrícia
entrou em um curso de comunicação verbal. Um dos exercícios que
considerou mais importante para o seu desenvolvimento foi ouvir
comentários positivos sobre as suas apresentações. “Agora, eu também
tenho procurado me preparar mais e ensaiar para ter mais
segurança. Até porque mesmo o improviso demanda um bom estudo prévio”,
diz. “Sem falar que a leitura e construção de um bom vocabulário aliado
ao treino constante é parte fundamental de todo este processo”,
completa. Patrícia Fausto Jerênimo, supervisora da Essencis Soluções
Ambientais, também buscou um desses cursos. Mas não que ela tivesse
medo. “O presidente da companhia notou que as apresentações dos
funcionários eram fracas e custeou o curso para 60 executivos. Para mim,
ajudou a perder os vícios de linguagem, como o ‘né’ e o ‘tá’”, conta.
“Logo depois do curso, tivemos apresentação de planejamento e vi um
funcionário bastante inseguro. Treinei ele antes da apresentação
seguinte. O resultado foi muito bom. O líder da equipe falou que, pela
primeira vez, ele passou segurança no que estava apresentando. Foi
gratificante.” Fernando Pereira de Jesus, fundador de Instituto FaleBem,
diz que é importante contar com um amigo ou familiar nessas horas.
“Serve de apoio ou orientador. É construtivo.”
Fonte: Brasil Econômico
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