Abrir um negócio, acreditar em uma ideia e fracassar. Apesar da
situação difícil, isso não pode servir como motivo para o empreendedor
desistir. Pelo contrário, segundo especialistas ouvidos pelo Estadão
PME, a experiência serve para o empresário repensar o negócio e tentar
de novo.
De acordo com a última pesquisa do Sebrae sobre o tema, 73% das
empresas do País sobrevivem depois de dois anos de vida. O
levantamento, feito em 2006 e divulgado no ano passado, avaliou negócios
em todo Brasil. Para o professor de administração da USP, Sílvio
Aparecido, o dado é animador e revela uma taxa semelhante a dos Estados
Unidos, onde a cultura empreendedora existe há décadas. Por outro lado, especialistas afirmam que as dificuldades no
planejamento financeiro são os principais problemas das micro e
pequenas empresas no Brasil. Esta deficiência responde por pelo menos
cinco em cada 10 falências registradas, segundo Marcos Hashimoto,
professor de administração da ESPM.
Mas, depois de falir, fica a questão: fracassar no primeiro
negócio é motivo para deixar de empreender? O Estadão PME ouviu a
opinião de cinco especialistas e aponta as respostas.
:: Geraldo Borin (PUC-SP) ::
Para o professor de administração da PUC de São Paulo, o ideal é
fazer tudo para evitar a falência. Para isso, recomenda-se a realização
de um plano de negócios. O plano não garante que o negócio vai ser bem
sucedido, mas é possível avaliar a viabilidade da empresa e se o retorno
esperado pode ocorrer.
De acordo com Borin, fracassar na primeira tentativa não
pode esmorecer o empreendedor. Empresários bem sucedidos também demoram
para alcançar o sucesso nos negócios. "Muitos passaram por percalços e
dificuldades, mas nada como a prática para ir depurando o planejamento",
diz. "Essa prática acaba sendo uma grande lição de vida. O empreendedor
que tenta de novo começa um negócio na frente porque tem experiência.
Ele deve continuar", complementa.
:: Marcelo Nakagawa (Insper) ::
Nos Estados unidos, quebrar e continuar tentando é bem visto
pelo mercado. Segundo o professor e coordenador do Centro de
Empreendedorismo do Insper, Marcelo Nakagawa, no mercado norte-americano
há empresas que contratam empreendedores que quebraram por conta da
experiência que eles têm. "Falir, no Brasil, é como se fosse uma falha",
diz. "Acredito que aquele que tem a ideia de empreender não desiste.
Uma vez empreendedor, sempre empreendedor. A pessoa que tem a convicção
não para", finaliza Nakagawa.
:: Luiz Barreto (Sebrae) ::
"Fracassar não é razão para desistir", diz o presidente do
Sebrae Nacional. De acordo com Barreto, o fracasso não pode ser um
fator desestimulador. Para ele, a cultura do aprendizado deve ser mais
incentivada no Brasil, assim como é nos Estados Unidos. "Empreender
envolve risco, principalmente nos dois primeiros anos, que são os mais
críticos. A experiência adquirida serve como aprendizado. O importante é
o empreendedor compreender que investir em gestão empresarial é
prioridade para começar bem", diz.
De acordo com Barreto, o mercado está mais competitivo e
exigente do que há algumas décadas e o empreendedor pode abrir mão do
planejamento. "É preciso pensar em soluções para garantir a
sustentabilidade do negócio", analisa.
:: Marcos Hashimoto (ESPM) ::
"Aquele que vai à falência e desiste não é empreendedor", diz o
professor do curso de administração da ESPM. De acordo com o
especialista, o empreendedor verdadeiro sabe que quebrar faz parte do
jogo e é só mais uma etapa do negócio.
"O que acontece de pessoas quebrarem e depois desistirem é
porque não tinham convicção na ideia. A falência pode ocorrer por vários
motivos: inexperiência, falta de conhecimento e de contatos",
exemplifica. "Quem quebra acreditando na ideia tende a levantar,
sacudir a poeira e voltar. Se ele desiste não é pela frustração de ter
cometido erros", diferencia.
Já o outro perfil de empreendedor analisado por Marcos
Nakagawa desiste porque a convicção não era suficiente para dar a ele a
característica típica do empreendedor: persistência. "O dono de um
negócio tem de acreditar na ideia para cair e levantar de novo. Se não
tem essa crença, ele vai sempre colocar a culpa no outro". O professor
ainda analisa: "o empreendedor olha e fala: não deu certo, errei nisso,
vamos ver como faço de novo. Às vezes ele até peca por excesso de
otimismo na ideia", conclui.
:: Silvio Aparecido dos Santos (USP) ::
Para o professor de administração da USP, o histórico mostra que
se o empreendedor realmente tem competência, ele não desiste. "Ser
empreendedor é um aprendizado. O que o caracteriza é a necessidade
típica de deixar um legado, necessidade de realizar algo do zero. Ele
não é motivado fortemente por ganhar dinheiro ou pelo poder, mas de
deixar esse legado", explica. "Há um estudo na Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, FEA, a
característica principal do empreendedor é a resiliência, ou seja, a
capacidade de sobreviver e resistir ao fracasso", completa o professor.
Fonte: O Estadao.com.br
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