“Nosso objetivo é garantir a milhões de pequenos empreendedores, alguns ainda na informalidade, acesso a recursos para investimentos em condições mais adequadas”, disse Dilma no lançamento do programa, por enquanto ainda restrito ao Banco do Brasil, Caixa, BNB e Banco da Amazônia (Basa). “Queremos dar condições para que eles possam expandir seus negócios e gerar riqueza para o Brasil.” Pelas normas do Banco Central (BC), todos os bancos, públicos ou privados, são obrigados a destinar ao microcrédito 2% dos compulsórios sobre depósitos à vista. Quem não quiser emprestar pode deixar o dinheiro parado no BC ou ceder os recursos a uma instituição que queira utilizá-los, opções da maioria dos bancos privados. Pelos dados oficiais, dos R$ 3,15 bilhões disponíveis, um terço dorme nas gavetas do BC e só R$ 973 milhões vão para o crédito produtivo. O restante financia o consumo.
Isso contraria o princípio do microcrédito, que é o de fomentar pequenos empreendedores por meio de empréstimos baratos e de baixo valor. A intenção do governo é de que todo o dinheiro reservado para o microcrédito passe a circular na economia em investimentos produtivos. Para isso, o novo programa vai oferecer juros mais camaradas que os praticados atualmente. No Crescer, os bancos terão de emprestar a 0,64% ao mês, mas vão receber 1,3% ao mês ou os 16,8% ao ano cobrados hoje pelo BNB, um dos dinheiros mais baratos do sistema bancário. A diferença será subsidiada pelo Tesouro. O governo planeja gastar R$ 50 milhões em 2011, R$ 310 milhões em 2012 e R$ 483 milhões em 2013, com a compensação das taxas de juros. O volume de recursos à disposição do microcrédito não muda. “Queremos gerar oportunidades de ascensão social, e temos certeza de que o microcrédito funciona como um forte fator de ascensão social”, disse Dilma.
O CrediAmigo, embora longe do sucesso do banco de Yunus, é o modelo mais bem-sucedido: localiza-se em uma região que ainda tem enormes desigualdades sociais e desenvolveu esquemas de crédito e de garantia solidária – um cliente garante o outro – bastante eficazes. Mesmo assim, esses mecanismos sempre esbarraram em entraves legais, em especial as exigências do BC, como a de que o interessado tenha uma conta bancária. Outro problema é que os bancos privados há muito tempo torcem o nariz para essa modalidade de empréstimos. O que lhes desagrada é que o esforço para conceder um microempréstimo é semelhante ao exigido para vender financiamentos muito mais rentáveis. “Microcrédito não dá dinheiro”, resume o diretor de um banco de varejo que não quer aparecer para não ser visto como um chato a estragar a festa no Planalto. O Banco do Brasil, que já destina toda a sua carteira de R$ 1 bilhão de microcrédito ao consumo, com taxa de 0,99% ao mês, vê a transição para o microcrédito produtivo como uma oportunidade para ampliar sua presença entre os clientes de renda mais baixa.
“Faz parte da nossa estratégia de inclusão bancária e de fidelização dos clientes que já conquistamos”, diz Robson Rocha, vice-presidente de gestão de pessoas e desenvolvimento sustentável. A meta do banco é chegar a 2013 com 1,1 milhão de clientes e R$ 1,4 bilhão emprestados. Ao contrário do que propalam os banqueiros do setor privado, os executivos do Banco do Brasil e da Caixa garantem que, mesmo com juros reduzidos, a operação é rentável. “É possível operar sem ter prejuízo”, diz o presidente da Caixa, Jorge Hereda. “Sabemos da importância social, mas olhamos para esse produto com olhar negocial”, afirma Rocha, do Banco do Brasil. Num primeiro momento, o Crescer foi desenhado apenas com a participação dos bancos públicos. Mas os bancos privados também terão que participar, destinando ao programa pelo menos uma parte dos recursos do microcrédito. A exigência começa em 10%, a partir de janeiro de 2011, e aumenta para 80%, em julho de 2013. “Já estamos conversando com os bancos privados e a expectativa é de que eles entrem também”, diz Gilson Bittencourt, secretário-adjunto do Ministério da Fazenda, responsável pela elaboração do programa.
Cláudia Gradilone
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