Tarde de terça-feira em São  Paulo. Em uma sala de aula, sete empreendedores debatem calorosamente  sobre o futuro de uma companhia do setor farmacêutico dos EUA. O que  fazer para fechar as contas e passar a ter lucro? Aceita a proposta de  compra? Abre capital na bolsa? Como lidar com a concorrência com os  grandes? Diante dos alunos, o professor americano John Mullins ouve com  atenção as diversas opiniões e, em seguida, mostra o que a empresa fez  sobre cada um desses tópicos e o resultado obtido. Para quem observa a  discussão, fica claro que o intuito do professor é fazer com que os  alunos reflitam sobre temas que fazem parte do cotidiano de qualquer  empresário e, assim, estejam preparados para tomar suas próprias  decisões.   Presidente da Fundação de  Empreendedorismo e Marketing da London Business School, Mullins é  especialista em educação empreendedora e doutor pela Universidade de  Minnesota. Já escreveu cerca de 40 artigos publicados em revistas de  renome como a "Harvard Business Review".   Mullins esteve recentemente  no país para a segunda edição da Rodada de Educação Empreendedora  Brasil, organizada pela Endeavor, em parceria com o Sebrae e a  Universidade de Stanford. Em São Paulo, ministrou um workshop e concedeu  entrevista ao Valor. Ele disse que apesar da crise financeira na  Europa, o momento é excepcional para o brasileiro empreender.   Valor: O número de pequenas e  médias empresas que não sobrevivem ao primeiro ano de vida no Brasil é  extremamente elevado. Como a educação pode ajudar empreendedores  iniciantes a obter sucesso?   John Mullins: A mortalidade  não é um problema apenas do Brasil, mas mundial. A educação pode  contribuir e muito para a longevidade dos negócios. Na London Business  School nós desenvolvemos um curso de verão voltado para start ups que  exemplifica como estudar é benéfico. Nossa meta no programa é  prepará-las para enfrentar os desafios que surgem no começo. Nos últimos  dez anos passaram pelo curso 136 empresas. Delas, 116 continuam  operando muito bem, ou seja, 85%. Por que a grande maioria sobreviveu?  Porque o estudante teve contato com cases de sucesso, leu artigos,  participou de discussões e dividiu com colegas e professores suas  dúvidas. Ele aprendeu a estar mais preparado para as adversidades.   Valor: Então o senhor não acredita que empreendedorismo é um dom?   Mullins: Não acredito que  você possa, por exemplo, pegar alguém indiscriminadamente e torná-lo  empreendedor, mas não acho que seja um talento nato. Para empreender é  preciso ter paixão. Este é o primeiro pré-requisito. Além disso, quanto  maior o grau de complexidade e inovação da empresa, maior deve ser o  nível educacional do dono. Quem se dá bem tem em comum, entre outros  aspectos, a paixão pelo que faz e a capacidade de trazer novas soluções.   Valor: É interessante ter experiência em uma grande companhia antes de abrir a empresa?   Mullins: Trabalhar em  companhias grandes pode ensinar a lidar com pessoas, a desenvolver  características de liderança, desenvolver novas tecnologias e ajuda a  entender como os consumidores pensam.   Valor: O que deve ser feito  quando o empresário pensa que encontrou uma ótima oportunidade ou que  seu produto é inovador e na prática percebe que não é bem assim? É  melhor mudar o foco ou insistir na ideia?   Mullins: Ele deve ter sempre  um plano B e até um C. A maioria dos negócios que dão certo não levam à  risca todos os detalhes do planejamento inicial. O bom empresário é  aquele que consegue ser flexível e sabe reconsiderar metas de acordo com  aquilo que ele capta do mercado.   Valor: Existe a idade ideal para começar a empreender?   Mullins: Nunca é tarde para  abrir um negócio. No Vale do Silício há mais CEOs que já passaram dos 50  do que empreendedores abaixo dos 25 anos. Eles construíram carreira em  empresas de ponta, aprenderam no ambiente corporativo e quando atingiram  a maturidade se sentiram prontos para montar suas empresas.   Valor: O que as pequenas e médias empresas devem fazer para atrair e reter talentos?   Mullins: No início, as  pequenas e médias empresas talvez não tenham como pagar salários mais  altos ou tão bons quanto os oferecidos pelos concorrentes, mas é  possível mostrar para estes talentos as vantagens de trabalhar em uma  start up como, por exemplo, maior autonomia na tomada de decisões e  chances de crescer junto com o empreendimento. Ao avaliar uma proposta  de trabalho, as pessoas levam em conta até a empatia que tiveram com o  gestor na hora da entrevista. E quando já estão empregadas, dificilmente  elas pensam em mudar de emprego se o ambiente de trabalho for  agradável, produtivo, se estão tendo seus potenciais reconhecidos e se  estão crescendo na carreira.   Valor: É um bom momento para empreender por aqui?   Mullins: O momento é  excepcional. O Brasil tem um mercado interno robusto. Observa-se também o  aumento do poder aquisitivo das classes mais baixas. Elas querem  consumir. Ao mesmo tempo, falta infraestrutura para dar suporte ao  crescimento. Quem souber captar essas necessidades e transformá-las em  novos negócios tem tudo para obter sucesso.   Valor: Quais são os erros mais comuns cometidos pelas start ups?   Mullins: São vários. Entre  eles cito: perder muito tempo no planejamento e pouco se alinhando às  necessidades do cliente. Subestimar a concorrência. Desorganização  financeira é outro erro grave, principalmente porque a maioria das  empresas começa com dinheiro curto e é fundamental saber investi-lo de  forma apropriada.      |    |
| Fonte: Valor Econômico | |
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Para empreender, é preciso ter paixão
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