terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Na web, companhias aceleram adaptação a novos endereços

Desde que celulares, tocadores de música, TVs e outros equipamentos eletroeletrônicos passaram a disputar espaço na internet com os tradicionais computadores, a web se viu mais próxima de atingir a "lotação". Cada equipamento dispõe de uma identificação própria para conectar-se à rede mundial, conhecida como IP (sigla para internet protocol). O protocolo atual, o IPv4, dispõe de 4,3 bilhões de endereços eletrônicos e está prestes a atingir sua capacidade máxima. No Brasil, a estimativa é que os endereços se esgotem até 2013. Para impedir a falta de endereços, empresas e governo estão investindo na adoção de um novo protocolo, o IPv6, com capacidade quase ilimitada de endereços.
Um levantamento do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) indica que 568 dos 1,2 mil provedores e grandes redes existentes no país já fizeram os pedidos de blocos de endereço IPv6 - o dobro do volume registrado em 2010. O movimento começou a tomar fôlego em junho, com uma iniciativa do governo federal para estimular a adoção do IPv6 nos órgãos de governo e nas empresas estatais que mantêm grandes volumes de dados, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Caixa, Banco do Brasil, Telebras, Polícia Federal e Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Antonio Marcos Moreiras, gerente de projetos do NIC.br, afirma que grandes provedores de internet e operadoras de telefonia já se programaram para criar a infraestrutura necessária à implantação do IPv6. Nas empresas, a expectativa é de que migração comece entre o segundo semestre de 2012 e 2013. "Já houve mudança de roteadores e outros equipamentos devem ser implementados neste ano para que tudo esteja pronto em 2013."
Técnicos terão trabalho semelhante ao realizado na época do 'bug do milênio' para migração de protocolo
O governo realizou ações importantes para cumprir esse cronograma. O Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), que gerencia pouco mais de 144 mil endereços de IPv4 de órgãos de governo, começou a melhorar sua infraestrutura em 2009, diz Weldson Lima, gerente do departamento regional de operações do Serpro. "Sempre que vamos expandir ou atualizar nosso parque de equipamentos temos o cuidado de inserir especificações de IPv6. Até 2013, quando renovarmos todo o parque, estaremos completamente preparados para o protocolo", diz Lima. Segundo ele, os sites do governo federal serão os primeiros a migrar para o novo protocolo. No segundo semestre, a mudança será feita nos demais sites.
O primeiro site do governo a migrar para o IPv6 será o do Ministério do Planejamento, diz Delfino Natal de Souza, secretário de logística e tecnologia da informação do ministério. "A expectativa é que o novo portal do Ministério do Planejamento esteja no IPv6 até março", afirma Souza. Para isso, o ministério realizou uma consulta pública no ano passado para avaliar que tipos de equipamentos de rede deveriam ser adquiridos para oferecer melhor desempenho. Ainda neste trimestre, diz, será divulgada uma licitação para a compra de componentes para 30 instituições federais, entre eles roteadores, comutadores de borda e centrais (equipamentos usados para encaminhar pacotes de dados entre os diversos pontos da rede). O orçamento ainda não está fechado.
No setor privado, o movimento de implantação do protocolo de internet ganhou força entre operadoras e provedores, que fornecem a infraestrutura de conexão de internet para os internautas.
O UOL começou a trocar os equipamentos de infraestrutura de redes há dois anos. Atualmente, a companhia renova parte do seu parque de máquinas e faz a implantação de softwares adaptados para rodar em IPv6. "É um trabalho semelhante ao que foi feito na época do 'bug do milênio', em 1999. É preciso fazer um inventário de tudo e mudar a infraestrutura em camadas", afirma Enildo Barros, diretor de infraestrutura do UOL.
Além da troca de equipamentos de rede, será necessário instalar novos softwares nos equipamentos, para que aceitem o novo protocolo. Depois disso, é feita a adaptação dos softwares de aplicação vistos nos sites, como serviços de pagamento on-line, calculadora financeira, funções de criptografia, entre outros. Por último é feita a migração dos conteúdos dos sites do IPv4 para o IPv6. No caso do portal do UOL, parte dos serviços, como o PagSeguro e as salas de bate-papo, estarão habilitados em IPv6 a partir de fevereiro. Já a hospedagem de sites feita pelo UOL Diveo estará adaptada ao novo protocolo em 2013, diz Barros.
O portal Terra iniciou o processo de transição para o IPv6 em 2008, com a realização de testes para identificar a infraestrutura necessária ao projeto e a compra de equipamentos e serviços compatíveis com o novo padrão. Desde então, foram adquiridos mais de 200 equipamentos de rede, entre servidores, roteadores e outros recursos, diz Jeferson Rodrigues, gerente de desenvolvimento de tecnologia do Terra. "Trabalhamos até 2010 preparando a infraestrutura e no ano passado começamos a enfrentar o desafio de entregar conteúdos em IPv6", diz Rodrigues. Para 2012, o plano do Terra é ofertar todo o seu portfólio no novo padrão, o que inclui serviços de e-mail e conteúdos do portal e do serviço de vídeos on-line Terra TV.
A Locaweb já fez testes com o IPv6, mas enfrenta dificuldades para ofertar o serviço às empresas por falta de provedores de serviço com estrutura adequada, afirma Alexandre Souza, gerente de redes da Locaweb. "A principal dificuldade de dar continuidade aos trabalhos é que nossos principais provedores de serviço de internet ainda não estão realizando trânsito de tráfego em IPv6", observa Souza. A Locaweb, segundo o executivo, já atualizou os equipamentos de rede para suportar o tráfego de dados no IPv6. A empresa estima ter sua estrutura preparada até o fim de março. A oferta de serviços de computação em nuvem em IPv6, no entanto, só será feita em 2013.
As operadoras também definiram seus cronogramas no fim de 2011. A GVT informou que começa a oferecer suporte ao IPv6 aos clientes empresariais neste mês. A Oi e a Telefônica pretendem fazer o mesmo a partir de julho. A TIM anunciou investimento de R$ 1,3 milhão em infraestrutura de redes para adotar o IPv6 neste ano, mas fará uma implementação gradativa. A Algar Telecom (CTBC) e os provedores Highwinds, LANautilus, Level3 e TIWS, oferecem suporte desde 2011. (Colaborou Moacir Drska)
 
 
Trocando em miúdos
O Protocolo de Internet versão 6 (IPv6, na sigla em inglês) é um protocolo para a comunicação entre uma máquina e outra na internet. O endereço de IP nada mais é que uma sequência numérica que direciona o tráfego on-line, funcionando como o CEP de uma carta. O redirecionamento é invisível para o usuário. Se um usuário digita no navegador de internet www.valor.com.br, o equipamento converte esse endereço em um código numérico. Cada código é único e são esses endereços que estão com os dias contados. O protocolo atual, conhecido como IPv4, é formado por um código de 32 dígitos. No mundo, existem 4,3 bilhões de endereços eletrônicos. Em fevereiro do ano passado, a Internet Assigned Numbers Authority (Iana) - órgão que coordena a distribuição de IPs - entregou os últimos blocos de endereços do padrão IPv4 no mundo. Segundo a instituição, a distribuição desses IPs já chegou ao fim na Ásia e, na Europa, pode atingir seu limite máximo em fevereiro ou março deste ano. No Brasil, a estimativa do setor é que a distribuição de endereços do IPv4 seja encerrada até o início de 2013. Para que novos equipamentos e sites pudessem ter seu espaço na internet, o padrão IPv6 foi desenhado em 1994 e alterado em 2008. Com códigos de 128 dígitos, a capacidade do IPv6 de receber novos endereços é praticamente ilimitada, equivalendo a 56 octilhões de IPs - ou 79 trilhões de trilhões de vezes o espaço disponível no IPv4. Além de oferecer um volume muito maior de endereços, o novo protocolo de internet proporciona uma vantagem de segurança. Atualmente, uma empresa pode operar com milhares de computadores conectados, mas todos os equipamentos são "vistos" como se fossem apenas um endereço: o do roteador que distribui os dados entre os PCs. Com o IPv6, cada dispositivo terá um único endereço, o que facilitará investigações sobre ataques cibernéticos. A expectativa é de que aplicações de serviços de voz por IP (Voip) e videoconferência também sofrerão menos interferências e terão qualidade superior à atual.
 
 
Fonte: Valor Econômico

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