sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Poucos concursos e muitas empresas

O mundo se altera e o Brasil muda mais rapidamente ainda. As perspectivas dos jovens devem ser resultado de uma visão de futuro, ainda que muitas vezes, de forma ingênua, eles sejam fortemente influenciados por concepções e hábitos do passado. No cenário mundial contemporâneo, as empresas inovadoras são reconhecidamente os instrumentos fundamentais ao desenvolvimento sustentável, à geração de emprego e renda e à democratização de oportunidades. No entanto, a juventude, mesmo aqueles com acesso à educação superior, ainda tem como uma das principais estratégias a realização de concursos públicos.
O Brasil tem hoje pouco mais de 3% de sua população cursando ensino superior. O número de profissionais ativos formados não é muito superior ao de estudantes nesse nível, sendo que a soma de estudantes e formados é ainda abaixo de 10% dos habitantes. Esse percentual é inferior à média dos países vizinhos e muito distante das nações mais avançadas com as quais competimos. Qualquer que seja o significado que se confira à palavra elite, de natureza intelectual ou financeira, há uma enorme concentração de possibilidades de iniciativas e lideranças nesse segmento populacional tão restrito.
Cenário é de aumento de empreendimentos inovadores, que agora entram na estratégia de desenvolvimento
A escolha individual pela carreira de servidor público é legítima e nobre, sendo que, de fato, a burocracia estatal tem sido um dos alicerces responsáveis pela consolidação de um estado moderno. No entanto, aquilo que singularmente é compreensível enquanto promessa para atendimento de gerações futuras se torna algo insustentável e não realista.
A título de exemplo e definição de tendências, as categorias que representam quase um milhão de servidores do executivo federal têm R$ 1,6 bilhão incluído no orçamento de 2012 para reajuste de salários, frente a uma demanda calculada de mais de R$ 40 bilhões. Os principais argumentos do governo federal são os compromissos fiscais, as incertezas no cenário econômico internacional e a necessidade de conter gastos correntes para manter os investimentos. Resultado: baixa expectativa de novos concursos e reduzida chance de acordos salariais.
Trata-se de um ponto de inflexão importante, face ao governo anterior, no qual a folha de salários teve crescimento de 36%, representando relativa abundância de concursos e ganhos salariais para praticamente todas as categorias de servidores.
Ao final do governo Fernando Henrique Cardoso, em 2002, os valores globais do funcionalismo federal somavam algo abaixo de R$ 60 bilhões e o governo Lula finaliza, em 2010, com um gasto consolidado acima de R$ 94 bilhões. As indicações claras para as próximas gerações, expressas em comunicados dos governantes atuais, são que, tanto no governo federal como nos governos estaduais e municipais, a tendência é de conferir maior apoio às empresas e menos concursos, em áreas cada vez mais restritas e reduzidas oportunidades de ganhos salariais expressivos.
O Brasil tem uma forte tendência de oportunidades crescentes, especialmente para empresas inovadoras, sendo que a inovação passa a fazer parte da estratégia central do desenvolvimento econômico e social sustentável. O país apresenta indicadores de estabilidade política, pleno equacionamento macroeconômico e outros predicados que lhe garantem competir pela liderança mundial em termos de atração de investimentos estrangeiros qualificados. O resultado lógico é que, para boas ideias e jovens talentosos, não faltarão recursos e oportunidades.
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Em 2010, mais de 1,3 milhão de empresas foram constituídas no país, mais do que o dobro do ano anterior, quando em torno de 680 mil empreendimentos haviam sido registrados. Esse aumento expressivo deu-se principalmente por conta do empreendedor individual, que em 2010 registrou mais de 750 mil formalizações, representando quase 55% do total de novos CNPJs.
No ano passado, somente o cadastro de empreendedores individuais atingiu a marca de 1,8 milhão de registros. Em 2012, a expectativa é que o número seja ainda maior, em função das novas regras do limite de enquadramento no Simples Nacional, que foi ampliado em 50%. Em suma, a nova Lei Geral das Micros e Pequenas Empresas, sancionada pelo presidente Lula ao fim de 2006, trouxe diversos benefícios por meio da redução de exigências burocráticas e da criação de um sistema tributário diferenciado e simplificado favorável ao segmento.
Há evidências concretas apontando que o brasileiro adulto tem uma mentalidade empreendedora bastante desenvolvida e a opção pela atividade empresarial começa efetivamente a fazer parte da vida cotidiana da população. Assim, o Brasil está entre os dez países com o maior número de pessoas que abrem negócios no mundo e a tendência é de forte crescimento. São cerca de 13,7 milhões de empreendedores iniciais, contabilizando aqueles que estão em fase de implantação do negócio ou que já o mantêm por até 42 meses. Eles correspondem a quase 12% da população adulta de 118 milhões de brasileiros com idade entre 18 e 64 anos.
Resultado desse cenário, e que demanda a percepção por parte dos jovens - especialmente dos universitários -, é que as empresas inovadoras, particularmente aquelas fruto de profissionais competentes e de formações acadêmicas complementares, terão pela frente um futuro incomparavelmente melhor. Essas empresas, em seu conjunto e dentro de um fenômeno coletivo e cooperativo, serão o principal alicerce de um crescimento econômico e social sustentável.

Fonte : Valor Econômico

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