Já tratei do tema no post ?Controle definido ou pulverizado? O que é
melhor para o minoritário??, de 30/11/2011. Com o mau desempenho de
algumas ações de companhias de controle difuso ou pulverizado, o assunto
voltou à tona. Por isso, não sem razão, Pedro Rudge, da Leblon
Equities, abordou o mesmo assunto neste espaço na última semana.
A criação, em 2000, do Novo Mercado ? espaço onde apenas companhias com
base acionária composta por ações votantes são permitidas ? e a
revitalização do mercado de capitais a partir de 2004 foram responsáveis
pelo aparecimento de empresas com controle difuso, sem a presença de um
controlador majoritário. A captação de recursos no mercado por meio da
emissão de ações teve como contrapartida a diluição da participação do
controlador ou grupo de controle.
Atualmente, empresas de controle pulverizado não são apenas aquelas de
baixa capitalização, as ?small caps?. Um dos principais índices do
mercado acionário brasileiro, o IBrX, possui seis companhias sem
controlador majoritário: a empresa do setor de shopping center BR Malls
(BRML3), a de varejo Lojas Renner (LREN3), a corretora Brasil Brokers
(BBRK3), a incorporadora PDG Realty (PDGR3), a de óleo e gás HRT
Participações (HRTP3) e a imobiliária Gafisa (GFSA3).
Além disso, há diversas outras empresas do IBrX nas quais o controle é
detido com uma participação inferior a 50% do total de ações, como a
companhia de vestuário Hering (HGTX3), a de tecnologia Totvs (TOTS3), a
de aluguel de carros Localiza (RENT3), a de análises clínicas Dasa
(DASA3), a de educação Anhanguera (AEDU3), a construtora (MRVE3) e
muitas outras.
A tendência é de que, ao longo do tempo, novas companhias sem dono
façam parte dos principais índices de ações do mercado brasileiro, pois
já há diversas empresas no Novo Mercado com controle difuso ou com
percentual elevado de ações no mercado.
A existência de um número expressivo de papéis negociados em bolsa
(?free float?) aumenta a possibilidade de um grupo alheio à companhia
tentar obter o controle. Quando a operação acontece sem negociação com o
grupo de controle original é chamada de oferta hostil (?take over?).
No 5º Congresso Value Investing, onde se reuniram alguns dos principais
fundos de valor do país, notei uma preferência por companhias com
controlador majoritário. Um dos gestores chegou a comentar: ?É
preferível empresa com dono, mesmo que ele seja problemático?. Mas deve
se ter em mente que essa escolha não é uma panaceia, pois empresas com
controlador definido como Aracruz e Sadia sofreram enormes perdas com
derivativos na crise de 2008.
Os investidores reclamavam, em um passado recente, do abuso dos
controladores em relação aos minoritários. Novos tempos, novas
preocupações. O risco agora é termos o chamado ?conflito de agência?. O
que é isso? São práticas adotadas pela administração não alinhadas ao
interesse dos demais acionistas. Muitas vezes, os diretores adotam
estratégias de curto prazo com o objetivo de aumentar a sua remuneração,
mas penalizando a continuidade da companhia no longo prazo. A obtenção
de elevados ganhos em curto espaço de tempo pode reduzir a diligência e o
cuidado dos administradores com a gestão. Não seria este o caso dos
bancos estrangeiros? Aqui recorro ao conceito de utilidade marginal
ministrado nas aulas de economia. O primeiro milhão de reais recebido
pelo profissional pode ter o efeito de motivá-lo ainda mais. Mas será
que o vigésimo milhão de reais terá o mesmo efeito?
Fonte: Valor Econômico
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