Até pouco tempo atrás, se alguém falasse que o Brasil estava prestes a 
se tornar um país com juros civilizados, seria motivo de chacota. 
Dezoito anos após a implantação do Plano Real, que trouxe a estabilidade
 econômica, o Brasil parecia destinado a ser o eterno campeão mundial 
dos juros altos. Agora, surgem sinais de que os juros também podem 
alcançar um patamar de Primeiro Mundo – ou, ao menos, semelhante ao de 
outros grandes países emergentes, como China, Índia e Rússia. Isso 
deverá trazer uma transformação profunda na vida dos indivíduos e das 
empresas
 A queda dos juros é fruto de uma conjunção de fatores. O maior deles é a
 própria estabilidade. Sem ela, ainda estaríamos correndo para o 
supermercado no dia do pagamento do salário para comprar antes da 
remarcação dos preços. A atual crise global também deu sua contribuição 
para a virada. Com a desaceleração econômica, o Banco Central pôde 
promover seguidos cortes na taxa básica de juros, a Selic, usada como 
referência pelos bancos, sem risco de incentivar um aumento no consumo e
 alimentar reajustes de preços com impacto na inflação.
 Hoje, a taxa básica está em 9% ao ano e, de acordo com a expectativa 
dos analistas, deverá baixar a 8,5% no final de maio, na próxima reunião
 do Comitê de Política Monetária (Copom), o menor nível da história. 
Descontada a inflação, isso representará uma taxa real de 3,1% ao ano.
 A queda nas taxas está provocando mudanças em todos os investimentos. 
Aplicações que garantiam ganhos de 10% ou 12% ao ano recentemente sem 
correr praticamente nenhum risco agora estão perdendo fôlego. Quem 
quiser ganhar um pouco mais terá de se arriscar na Bolsa ou mesmo no 
mundo dos negócios.
 Com uma boa orientação, é possível tirar o melhor dessa nova era. Para 
ajudar a administrar seu patrimônio, a reportagem de capa de ÉPOCA é um guia com tudo o que você precisa saber, das melhores opções de investimento à renegociação de dívidas. 
 1. Devo tirar meu dinheiro da caderneta de poupança?
 A velha poupança pode parecer pouco atraente para muito sabichão do 
mercado financeiro. Mas, para boa parte dos aplicadores e investidores, 
mesmo os mais endinheirados (que costumam reservar alguns trocados para 
diversificar seu patrimônio na caderneta), ela é – e continuará a ser – uma alternativa observada com carinho.
 Quem tem dinheiro hoje na poupança pode até migrar para outras 
aplicações, como sempre aconteceu, por razões pessoais ou estratégicas. 
Mas não por causa da mudança nas regras de cálculo dos rendimentos 
promovida pelo governo no final de abril. “A poupança tem um público 
cativo, que aplicou e vai continuar a aplicar”, diz Osvaldo do 
Nascimento, diretor executivo de investimentos e previdência do Itaú 
Unibanco.
 Pelas novas regras,
 a caderneta renderá só 70% da Selic, a taxa balizada pelo Banco 
Central, quando ela for menor ou igual a 8,5% ao ano – algo que pode 
acontecer já no final de maio, se as previsões dos analistas se 
confirmarem. Em outras aplicações, os investidores mais abonados podem 
obter quase 100% ao ano da Selic. Só que a poupança é isenta de 
tributação, enquanto nas demais aplicações o investidor paga imposto 
sobre seus ganhos.
 Além disso, a poupança é uma aplicação simples. O 
poupador recebe o mesmo rendimento em qualquer banco do país. E ela 
ainda oferece o menor risco do mercado. O investidor está protegido 
contra quebras de instituições financeiras pelo Fundo Garantidor de 
Créditos (FGC) até o limite de R$ 60 mil por CPF. Com os fundos de 
investimento, isso não acontece. O único risco da poupança seria a Selic
 ficar abaixo da inflação, porque seu dinheiro perderia valor. Isso, 
porém, não aparece nos binóculos dos analistas.
 2. O que devo fazer com o dinheiro em CDBs, fundos de renda fixa e DI?
 A queda dos juros reais, aqueles que superam a inflação e representam o
 ganho dos investidores na prática, tira muito do charme que as 
aplicações de renda fixa tiveram no passado recente, quando as taxas 
ofereciam mais de 10% ao ano. Hoje, com os juros reais na faixa de 3,5% 
(e as projeções apontando para uma taxa entre 2% e 2,5% ao ano), o 
investidor terá de investir mais para ter o mesmo ganho do passado.
 Isso não significa que será preciso correr para remanejar seu dinheiro.
 Ele continua seguro na renda fixa. Qualquer investidor mantém uma 
parcela do dinheiro nas aplicações mais conservadoras. “Para aumentar o 
risco, o aplicador tem de estar preparado para ganhar ou perder”, diz 
Nascimento. Se, ainda assim, você quiser rever suas aplicações, procure 
refletir calmamente. “O investidor que quiser mudar seu portfólio deve 
entender os riscos envolvidos nas diferentes aplicações, para fazer a 
mudança com segurança”, afirma Joaquim Levy, presidente da Bram, a 
empresa de gestão de recursos do Bradesco.
 Quem quiser ser mais cauteloso poderá investir em aplicações com taxas 
prefixadas, como CDBs e fundos de renda fixa, onde é possível “travar” 
as taxas antecipadamente. Como os fundos DI, acompanham o sobe e desce 
das taxas, eles serão beneficiados se o Banco Central tiver de subir os 
juros mais para a frente, para conter um eventual repique inflacionário,
 segundo preveem alguns analistas.
Fonte : Revista Época
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