Quanto vale a intuição para um empreendedor? Para Daniel Dalarossa,
brasileiro pioneiro no Vale do Silício, ela vale mais do que planos de
negócio e pesquisas de mercado. É um diferencial. E é por isso que o
executivo pretende abrir um curso de empreendedorismo que tenha o estado
intuitivo como um de seus pilares. “A intuição não é só para
privilegiados, ela pode ser treinada e desenvolvida”, explica Dalarossa,
acrescentando que “há diversas técnicas para atingir um estado
intuitivo, elevar a consciência até atingir a transmentalização”. Embora
seja o patinho feio das disciplinas voltadas para a formação de
empreendedores, esquecida por grande parte dos cursos, a intuição é uma
parte importante do processo.
A própria história de Dalarossa mostra isso. Para entender, é preciso
voltar ao final dos anos 1980, quando ele e João Lima decidiram montar
uma empresa de TI, a Cyclades. De 1988 a 2006, quando foi vendido, o
projeto conseguiu ultrapassar as barreiras e se estabelecer no Vale do
Silício. Dalarossa resume sua trajetória como “uma história de luta, de
desprendimento e de conquistas”, mas principalmente de motivação. “Eu
atribuo todo o sucesso à motivação”, diz. Mas o que é a intuição? De
acordo com a coach e diretora da Pro-Fit, Eliana Dutra, intuição, da
forma como tem sido estudada pela neurociência, é um conhecimento que se
tem e passa tão rápido pelo cérebro que não se consegue explicar.
Segundo Eliana, todos têm intuição.
A coach dá o exemplo de um chefe de bombeiros que, em meio à atuação
durante um incêndio, fez todo o time sair de dentro de um prédio, apesar
dos protestos de que o trabalho estava quase terminado. Minutos depois,
o prédio explodiu. O chefe estava com uma câmera no capacete e depois
de rever os seus passos, percebeu que ele tinha visto uma fumaça
alaranjada. Ele lembrou dos primeiros treinamentos, quando seu professor
disse que o tom alaranjado significava perigo de explosão. “Ou seja, o
conhecimento estava no inconsciente e passou tão rápido pela mente dele,
que ele não conseguiu justificar. Isso é a intuição”, explica
Eliana.Para ela, treinar isso é ficar aberto àquilo que aparentemente
não tem explicação. Partindo da ideia de que a intuição é algo que pode
ser treinado, ela também é algo que merece ser parte de um curso para
empreendedores. A Zymi, empresa de Daniel Dalarossa, foi criada com esse
intento, oferecendo cursos com três diferenciais.
O primeiro é ser feito por pessoas que passaram pela complicada tarefa
de empreender e que conhecem as dificuldades (e também facilidades) do
processo. Dalarossa pretende trazer mentores para participar dos cursos,
sendo um deles Gilson Menezes, que foi colaborador da Cyclades. O
segundo é o estado intuitivo, considerado muito importante pelo
executivo. “Aquilo que te incendeia, incendeia o time. É bem mais
importante do que ser um grande tecnólogo, marketeiro ou vendedor”, diz
Dalarossa. E o terceiro é a causa social. Ou seja, 100% das receitas
obtidas com os cursos serão revertidas para o Instituto Cuore, outra
iniciativa de Dalarossa, voltada para o desenvolvimento da autoestima de
“crianças em situação de vulnerabilidade social”. De acordo com o líder
da Zymi, essa característica é informada aos empreendedores antes da
matrícula nos cursos. ¦
De uma garagem em São Paulo direto até o Vale do Silício
A história de como dois sócios deixaram a Vila Olímpia e conquistaram o Vale do Silício
Daniel Dalarossa começou a vida de empreendedor em uma garagem da Vila
Olímpia, em São Paulo, dividindo o salário do sócio, João Lima. A
história da Cyclades, primeira empresa de Tecnologia da Informação
brasileira a ir para o Vale do Silício, começa assim. Ele era formado em
Computação na USP.
Lima era engenheiro eletricista pela Unicamp. E os dois abriram uma
empresa em 1988 com capital equivalente a US$ 6 mil para vender placas
para comunicação entre monitores. Dalarossa conta que foram diversas
fases na criação da Cyclades. A primeira, no Brasil, até o início dos
anos 1990. A segunda quando surgiu a ideia de ir para os Estados Unidos.
“Isso foi sem plano de negócios, sem planejamento. Foi muito por
intuição.
Quando contratamos um amigo nosso para ser nosso country manager lá,
ele nos botou abaixo”, lembra o empreendedor. Mesmo assim eles foram em
frente e, em 1993, apareceu a oportunidade com o Linux. Por ser
gratuito, o programa era popular — e a Cyclades aproveitou a
oportunidade e adaptou seu produto. Foi o boom da companhia, que chegou
em 1999 com receita de US$ 9,3 milhões e exportações para a Europa. Em
2006, quando foi vendida para a Avocent por US$ 100 milhões, a Cyclades
já possuía filiais em 14 países e mais de 8 mil clientes. O sucesso dos
dois é constantemente citado como exemplo. “Houve sensibilidade para
escolher mercado, muita luta em vendas, houve o Linux, mas eu não
atribuo o nosso sucesso a tecnologias. Isso é consequência de algo
maior, que é motivação. Se você está motivado, você faz tudo”, fala
Dalarossa.
Fonte: Brasil Econômico
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