Em um País com 6,1 milhões de empresas, segundo a Relação Anual de
Informações Sociais (Rais), não faltam histórias de quem largou a
estabilidade de um trabalho fixo para empreender. Uma mudança
aparentemente fácil de ser conduzida, mas que exige uma minuciosa
preparação. A trajetória até a criação do próprio negócio requer cuidado
e planejamento em diversos aspectos. Da preparação emocional ao plano
de negócios, da análise de mercado à busca por capacitação. Todos os
detalhes são importantes para quem deixa de ser empregado e escolhe ser
patrão.
“A pessoa precisa refletir se está preparada para fazer
essa mudança. Ela deve analisar se sabe gerenciar indivíduos que pensam
diferente, se está disposta a abrir mão do horário certo para entrar e
sair e dos benefícios recebidos e se está ciente que, nos primeiros
meses, vai ser difícil captar receita”, alerta Patricia de Rezende,
psicóloga e orientadora em comportamento financeiro. A especialista
enfatiza que realizar uma espécie de exercício mental é um passo
relevante antes de encarar a empreitada.
Vencida a fase de
assimilação psicológica à nova realidade, a execução já pode ser
pavimentada. O presidente do conselho deliberativo do Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Estado (Sebrae-RS), Vitor
Koch, recomenda a divisão do percurso por etapas. O passo inicial
consiste na realização de uma pesquisa do mercado em que o futuro
empresário pretende investir, no intuito de verificar brechas,
potencialidades e riscos. A partir daí, ganham-se elementos para a
montagem do plano de negócios. O documento dita uma série de diretrizes,
esmiuçando, entre outras coisas, o público consumidor alvo, os meios
para a captação de clientes e a forma de financiamento.
Na
sequência, o ideal é estabelecer quais as ferramentas de gestão serão
utilizadas, dando enfoque especial ao controle das finanças. Recorrer a
consultorias é uma alternativa para descobrir quais são os métodos mais
adequados. Por fim, um plano de marketing se torna indispensável para
escolher como e quais canais serão utilizados para atrair a atenção.
Mesmo após encontrar um modelo ideal, a estruturação da companhia deve
ser atualizada de forma permanente. “A vida do empreendedor é uma
construção que não tem fim”, resume Koch.
De acordo com o dirigente, a
criação de uma rede de contatos dentro do setor de atuação se constitui
em outro elemento valioso para detectar as carências existentes na
área. Apesar de não existir um tempo preestabelecido de maturação de
todo o processo envolvendo a abertura de uma empresa, agir lentamente
diminui as chances de prosperidade do negócio. “O empreendedor precisa
detectar a necessidade de consumo antes do mercado. Para isso, deve-se
unir planejamento, ação e velocidade. E a velocidade mínima é a do
mercado”, aponta.
Nesse sentido, a inovação entra com um papel
primordial para a sobrevivência no mercado. “Abrir um negócio sem pensar
adequadamente qual é o elemento inovador dele é um erro-chave. No caso
da pequena empresa, a saída é sempre buscar nichos de mercado e atuar
neles. Se vai abrir uma pastelaria, por exemplo, que se tenha um
diferencial, seja no produto, na distribuição ou na forma de posicionar o
artigo no mercado”, acredita Fernando Lopes, professor da Faculdade de
Administração de Empresas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(Ufrgs). O especialista, que leciona disciplinas voltadas ao
empreendedorismo, classifica a falta de investimento na capacitação dos
profissionais contratados, principalmente quando o foco são serviços,
como outro equívoco a ser evitado.
Em relação a décadas
anteriores, Lopes crê que os empreendedores brasileiros estão se
preparando melhor na hora de enveredar para o lado empresarial. “Hoje,
existe uma rede mais estruturada de apoio ao empreendedor, um acesso
maior ao Ensino Superior e o crédito está mais acessível. O crescimento
da economia brasileira nos últimos anos tem favorecido a sobrevivência
das pequenas empresas”, define.
Com a disponibilização de outras
opções de formalização no Brasil, como o Micro Empreendedor Individual
(MEI) e a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (Eireli), a
criação de negócios deu um salto. “Hoje você tem de estar formalizado
para se relacionar com o mercado. Isso leva as pessoas a criar e a
registrar suas empresas”, analisa o presidente da Junta Comercial no
Estado (Jucergs), João Alberto Vieira. O Rio Grande do Sul tem
acompanhado a movimentação nacional. Na Jucergs, até março de 2012,
abriram-se 23,4 mil empresas. No mesmo período do ano passado foram 18,7
mil. Se mantido o ritmo desta temporada, a marca de 80,8 mil registros
obtidos ao longo de 2011 será superada com sobras.
Fonte: Jornal do Comércio
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