quinta-feira, 3 de maio de 2012

O caminho até o negócio próprio

Em um País com 6,1 milhões de empresas, segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), não faltam histórias de quem largou a estabilidade de um trabalho fixo para empreender. Uma mudança aparentemente fácil de ser conduzida, mas que exige uma minuciosa preparação. A trajetória até a criação do próprio negócio requer cuidado e planejamento em diversos aspectos. Da preparação emocional ao plano de negócios, da análise de mercado à busca por capacitação. Todos os detalhes são importantes para quem deixa de ser empregado e escolhe ser patrão.
“A pessoa precisa refletir se está preparada para fazer essa mudança. Ela deve analisar se sabe gerenciar indivíduos que pensam diferente, se está disposta a abrir mão do horário certo para entrar e sair e dos benefícios recebidos e se está ciente que, nos primeiros meses, vai ser difícil captar receita”, alerta Patricia de Rezende, psicóloga e orientadora em comportamento financeiro. A especialista enfatiza que realizar uma espécie de exercício mental é um passo relevante antes de encarar a empreitada.
Vencida a fase de assimilação psicológica à nova realidade, a execução já pode ser pavimentada. O presidente do conselho deliberativo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Estado (Sebrae-RS), Vitor Koch, recomenda a divisão do percurso por etapas. O passo inicial consiste na realização de uma pesquisa do mercado em que o futuro empresário pretende investir, no intuito de verificar brechas, potencialidades e riscos. A partir daí, ganham-se elementos para a montagem do plano de negócios. O documento dita uma série de diretrizes, esmiuçando, entre outras coisas, o público consumidor alvo, os meios para a captação de clientes e a forma de financiamento.
Na sequência, o ideal é estabelecer quais as ferramentas de gestão serão utilizadas, dando enfoque especial ao controle das finanças. Recorrer a consultorias é uma alternativa para descobrir quais são os métodos mais adequados. Por fim, um plano de marketing se torna indispensável para escolher como e quais canais serão utilizados para atrair a atenção. Mesmo após encontrar um modelo ideal, a estruturação da companhia deve ser atualizada de forma permanente. “A vida do empreendedor é uma construção que não tem fim”, resume Koch.
De acordo com o dirigente, a criação de uma rede de contatos dentro do setor de atuação se constitui em outro elemento valioso para detectar as carências existentes na área. Apesar de não existir um tempo preestabelecido de maturação de todo o processo envolvendo a abertura de uma empresa, agir lentamente diminui as chances de prosperidade do negócio. “O empreendedor precisa detectar a necessidade de consumo antes do mercado. Para isso, deve-se unir planejamento, ação e velocidade. E a velocidade mínima é a do mercado”, aponta.
Nesse sentido, a inovação entra com um papel primordial para a sobrevivência no mercado. “Abrir um negócio sem pensar adequadamente qual é o elemento inovador dele é um erro-chave. No caso da pequena empresa, a saída é sempre buscar nichos de mercado e atuar neles. Se vai abrir uma pastelaria, por exemplo, que se tenha um diferencial, seja no produto, na distribuição ou na forma de posicionar o artigo no mercado”, acredita Fernando Lopes, professor da Faculdade de Administração de Empresas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). O especialista, que leciona disciplinas voltadas ao empreendedorismo, classifica a falta de investimento na capacitação dos profissionais contratados, principalmente quando o foco são serviços, como outro equívoco a ser evitado.
Em relação a décadas anteriores, Lopes crê que os empreendedores brasileiros estão se preparando melhor na hora de enveredar para o lado empresarial. “Hoje, existe uma rede mais estruturada de apoio ao empreendedor, um acesso maior ao Ensino Superior e o crédito está mais acessível. O crescimento da economia brasileira nos últimos anos tem favorecido a sobrevivência das pequenas empresas”, define.
Com a disponibilização de outras opções de formalização no Brasil, como o Micro Empreendedor Individual (MEI) e a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (Eireli), a criação de negócios deu um salto. “Hoje você tem de estar formalizado para se relacionar com o mercado. Isso leva as pessoas a criar e a registrar suas empresas”, analisa o presidente da Junta Comercial no Estado (Jucergs), João Alberto Vieira. O Rio Grande do Sul tem acompanhado a movimentação nacional. Na Jucergs, até março de 2012, abriram-se 23,4 mil empresas. No mesmo período do ano passado foram 18,7 mil. Se mantido o ritmo desta temporada, a marca de 80,8 mil registros obtidos ao longo de 2011 será superada com sobras.

Fonte: Jornal do Comércio

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