quarta-feira, 30 de maio de 2012

Volta por cima


O mercado de franquias continua aquecido, mas o sonho de tocar o próprio negócio pode virar um pesadelo do dia para a noite. Antes de contabilizar retornos financeiros, os empreendedores precisam driblar dificuldades como encontrar um ponto comercial bem localizado, saber fidelizar clientes e ainda tornar a loja conhecida na região. "Não há uma fórmula mágica. É preciso dedicação, estratégia, planejamento e sorte", analisa Thaís Kurita, sócia do escritório Kurita, Bechtejew & Monegaglia (KBM), especializado em assessoria jurídica para franquias.
Para quem pretende trilhar o caminho sugerido pela especialista, os números do mercado são atraentes. Em 2011, o faturamento do setor de franquias bateu nos R$ 88,8 bilhões, um montante 16% mais gordo do que o registrado em 2010. Somente no ano passado, 176 novas redes entraram no segmento, segundo dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF). São mais de duas mil marcas, com mais de 90 mil franqueadas, números que aumentaram 9,5% e 7,8%, respectivamente, no último ano.
Os segmentos que mais aumentaram o faturamento no ano passado foram turismo (85,9%), decoração (35%), esportes e beleza (24,3%). Para 2012, a ABF estima um crescimento de cerca de 15%, estimulado também pela abertura de 43 novos shopping centers durante o ano, em todo o país.
De acordo com Ricardo Camargo, diretor executivo da entidade, apesar do cenário positivo, um dos principais entraves para iniciar uma operação de franquia é a escolha do ponto. "O pagamento de luvas ou a necessidade de reformas para adequar o local ao padrão do franqueador podem elevar o custo do projeto ou inviabilizar a iniciativa." O alto valor dos imóveis, registrado em praticamente todas as regiões do país, é considerado um forte inibidor da abertura de novos negócios e, segundo Camargo, nem sempre é possível repassar o ônus do aluguel para o preço do produto final.
Com a loja aberta, os riscos continuam. Para empresários do setor, a ilusão do negócio próprio pode virar bolha de sabão se o empresário não se dedicar 100% à empreitada. Rafael Carbonell, sócio da Runner na Vila Leopoldina, em São Paulo (SP), teve problemas quando dirigia uma academia de outra bandeira.
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"Deixamos a administração na mão de uma pessoa sem visão empreendedora", lembra. A empresa foi fechada e ele abriu a nova academia em março, com investimentos de R$ 1,2 milhão. Tem mil alunos e 40 funcionários. "O futuro franqueado deve entender do setor que vai atuar para sugerir melhorias aos licenciadores", afirma. Carbonell planeja abrir uma outra academia em 2013.
Segundo Júnior Nascimento, diretor da Cia de Franchising, especializada na venda e expansão de redes, a falta de comunicação com o franqueador pode levar ao fracasso da parceria. "Alguns empreendedores têm dificuldades de seguir regras. O sistema de franqueamento apresenta uma fórmula testada, com modelos de gestão estabelecidos. Se os investidores questionam as estratégias das redes acabam deteriorando o relacionamento."
O especialista aconselha adotar uma gestão rígida, seguindo as orientações do franqueador, mas sem deixar de ouvir o que o mercado está pedindo.
Marcelo Duarte, franqueado da Água Doce em Sinop (MT), teve de suar a camisa antes que o restaurante se firmasse como um ponto de encontro na cidade, a 500 quilômetros de Cuiabá. "Fiz investimentos em marketing para tornar o local conhecido e ainda enfrentamos a crise da soja, que afetou toda a economia do município."
Para atrair mais clientes, o empresário contratou uma agência especializada em mídias sociais para criar e gerenciar a página da empresa no Facebook. Recentemente, investiu R$ 250 mil em uma reforma que durou cinco meses. O esforço foi recompensado: a unidade saltou do 93º lugar para a sexta posição no ranking de negócios da franqueadora. A estimativa para 2012 é alcançar um faturamento de R$ 2 milhões, puxado pela revitalização do parque infantil e de apresentações musicais. "Já estamos quase alcançando essa meta. Para isso, vivo o negócio dia e noite."
Para Thaís, do escritório KBM, Duarte está no caminho certo. "Uma das maiores causas de insucesso nas empresas é o abandono da operação", diz. "Existe um mito de que as franquias são infalíveis e podem caminhar sozinhas." A empresária Ana Cândida Blasi, dona de uma lavanderia da rede Quality, no bairro do Paraíso, em São Paulo (SP), também resolveu levantar o caixa da loja "no braço".
Quando comprou a unidade do primeiro franqueado, em 2007, percebeu que o faturamento podia ser maior. Para aumentar a clientela, criou promoções, distribuiu brindes e fez parcerias com condomínios e um hotel. "Conversava com os porteiros dos prédios e oferecia descontos aos moradores. O retorno financeiro chegou no segundo ano de atividades", diz. Agora, a unidade é considerada a sexta no ranking de faturamento da rede e lava cerca de quatro mil peças ao mês.
Empreendedores interessados em investir no setor podem conhecer novas marcas durante a ABF Franchising Expo, de 13 a 16 de junho, em São Paulo (SP). A feira deve contar com mais de 470 expositores e movimentar R$ 400 milhões em negócios. Neste ano, 71 novas redes participarão do evento, que também trará empresas e associações de franquias de mais de dez países, como França, China, Rússia e Canadá.

Fonte: Valor Econômico

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