O mercado de franquias continua aquecido, mas o sonho de tocar o
próprio negócio pode virar um pesadelo do dia para a noite. Antes de
contabilizar retornos financeiros, os empreendedores precisam driblar
dificuldades como encontrar um ponto comercial bem localizado, saber
fidelizar clientes e ainda tornar a loja conhecida na região. "Não há
uma fórmula mágica. É preciso dedicação, estratégia, planejamento e
sorte", analisa Thaís Kurita, sócia do escritório Kurita, Bechtejew
& Monegaglia (KBM), especializado em assessoria jurídica para
franquias.
Para quem pretende trilhar o caminho sugerido pela especialista, os
números do mercado são atraentes. Em 2011, o faturamento do setor de
franquias bateu nos R$ 88,8 bilhões, um montante 16% mais gordo do que o
registrado em 2010. Somente no ano passado, 176 novas redes entraram no
segmento, segundo dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF).
São mais de duas mil marcas, com mais de 90 mil franqueadas, números que
aumentaram 9,5% e 7,8%, respectivamente, no último ano.
Os segmentos que mais aumentaram o faturamento no ano passado foram
turismo (85,9%), decoração (35%), esportes e beleza (24,3%). Para 2012, a
ABF estima um crescimento de cerca de 15%, estimulado também pela
abertura de 43 novos shopping centers durante o ano, em todo o país.
De acordo com Ricardo Camargo, diretor executivo da entidade, apesar do
cenário positivo, um dos principais entraves para iniciar uma operação
de franquia é a escolha do ponto. "O pagamento de luvas ou a necessidade
de reformas para adequar o local ao padrão do franqueador podem elevar o
custo do projeto ou inviabilizar a iniciativa." O alto valor dos
imóveis, registrado em praticamente todas as regiões do país, é
considerado um forte inibidor da abertura de novos negócios e, segundo
Camargo, nem sempre é possível repassar o ônus do aluguel para o preço
do produto final.
Com a loja aberta, os riscos continuam. Para empresários do setor, a
ilusão do negócio próprio pode virar bolha de sabão se o empresário não
se dedicar 100% à empreitada. Rafael Carbonell, sócio da Runner na Vila
Leopoldina, em São Paulo (SP), teve problemas quando dirigia uma
academia de outra bandeira.
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"Deixamos a administração na mão de uma pessoa sem visão empreendedora", lembra. A empresa foi fechada e ele abriu a nova academia em março, com investimentos de R$ 1,2 milhão. Tem mil alunos e 40 funcionários. "O futuro franqueado deve entender do setor que vai atuar para sugerir melhorias aos licenciadores", afirma. Carbonell planeja abrir uma outra academia em 2013.
"Deixamos a administração na mão de uma pessoa sem visão empreendedora", lembra. A empresa foi fechada e ele abriu a nova academia em março, com investimentos de R$ 1,2 milhão. Tem mil alunos e 40 funcionários. "O futuro franqueado deve entender do setor que vai atuar para sugerir melhorias aos licenciadores", afirma. Carbonell planeja abrir uma outra academia em 2013.
Segundo Júnior Nascimento, diretor da Cia de Franchising, especializada
na venda e expansão de redes, a falta de comunicação com o franqueador
pode levar ao fracasso da parceria. "Alguns empreendedores têm
dificuldades de seguir regras. O sistema de franqueamento apresenta uma
fórmula testada, com modelos de gestão estabelecidos. Se os investidores
questionam as estratégias das redes acabam deteriorando o
relacionamento."
O especialista aconselha adotar uma gestão rígida, seguindo as
orientações do franqueador, mas sem deixar de ouvir o que o mercado está
pedindo.
Marcelo Duarte, franqueado da Água Doce em Sinop (MT), teve de suar a
camisa antes que o restaurante se firmasse como um ponto de encontro na
cidade, a 500 quilômetros de Cuiabá. "Fiz investimentos em marketing
para tornar o local conhecido e ainda enfrentamos a crise da soja, que
afetou toda a economia do município."
Para atrair mais clientes, o empresário contratou uma agência
especializada em mídias sociais para criar e gerenciar a página da
empresa no Facebook. Recentemente, investiu R$ 250 mil em uma reforma
que durou cinco meses. O esforço foi recompensado: a unidade saltou do
93º lugar para a sexta posição no ranking de negócios da franqueadora. A
estimativa para 2012 é alcançar um faturamento de R$ 2 milhões, puxado
pela revitalização do parque infantil e de apresentações musicais. "Já
estamos quase alcançando essa meta. Para isso, vivo o negócio dia e
noite."
Para Thaís, do escritório KBM, Duarte está no caminho certo. "Uma das
maiores causas de insucesso nas empresas é o abandono da operação", diz.
"Existe um mito de que as franquias são infalíveis e podem caminhar
sozinhas." A empresária Ana Cândida Blasi, dona de uma lavanderia da
rede Quality, no bairro do Paraíso, em São Paulo (SP), também resolveu
levantar o caixa da loja "no braço".
Quando comprou a unidade do primeiro franqueado, em 2007, percebeu que o
faturamento podia ser maior. Para aumentar a clientela, criou
promoções, distribuiu brindes e fez parcerias com condomínios e um
hotel. "Conversava com os porteiros dos prédios e oferecia descontos aos
moradores. O retorno financeiro chegou no segundo ano de atividades",
diz. Agora, a unidade é considerada a sexta no ranking de faturamento da
rede e lava cerca de quatro mil peças ao mês.
Empreendedores interessados em investir no setor podem conhecer novas
marcas durante a ABF Franchising Expo, de 13 a 16 de junho, em São Paulo
(SP). A feira deve contar com mais de 470 expositores e movimentar R$
400 milhões em negócios. Neste ano, 71 novas redes participarão do
evento, que também trará empresas e associações de franquias de mais de
dez países, como França, China, Rússia e Canadá.
Fonte: Valor Econômico
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